O Externato Paulo VI acolheu na sexta-feira, no dia 6 de dezembro, a primeira edição da tertúlia "Chá e(m) Diálogo", um evento que reuniu pais, professores e especialistas para debater as Perturbações do Neurodesenvolvimento, com especial enfoque no Espectro do Autismo.
A sessão, realizada na Biblioteca do Externato, contou com a presença do Professor Doutor Fernando Barbosa e da Dra. Ana Gomes, da Cooperativa Focus, que conduziram reflexões sobre as Perturbações do Espectro do Autismo (PEA), abordando estratégias de intervenção, inovações e o impacto da compreensão do "espectro" para a inclusão escolar e social.
As Perturbações do Espectro do Autismo (PEA) são uma perturbação global do desenvolvimento que se prolonga por toda a vida. Anteriormente agrupadas sob o termo "autismo", estas condições são agora classificadas como um espectro devido à diversidade de características e níveis de gravidade da patologia. As PEA afetam áreas fundamentais como a interação social, a comunicação e o comportamento. Embora a origem exata das PEA ainda seja motivo de investigação científica, sabe-se que não existe uma causa única associada à patologia. Da mesma forma, não há cura para esta condição, mas sim intervenções que podem melhorar significativamente a qualidade de vida e a funcionalidade dos indivíduos.
Uma das abordagens centrais da tertúlia foi a discussão da utilização de estratégias comportamentais e desenvolvimentais naturalistas para incrementar os comportamentos desejados e reduzir os comportamentos disruptivos. Com recurso à curva do comportamento, foram descritas as sete diferentes fases que uma criança com PEA pode experienciar ao longo de uma situação de desafio ou stress e sugeridas estratégias de intervenção:
Fase calma: Criar ambientes estruturados e reforçar as expectativas sociais e comportamentais.
Fase do desencadeador: Identificar os fatores que provocam agitação, como transições ou interações negativas, seja no contexto escolar ou familiar.
Fase de agitação: Oferecer apoio para redirecionar o foco da criança, alterar tarefas/forma de interagir ou propor colaboração.
Fase da Aceleração: O comportamento da criança começa a interferir significativamente com as atividades que está a desempenhar. Muitas vezes, nesta fase, a criança tenta envolver o adulto no seu comportamento, tornando-o mais evidente e, frequentemente, reconhecido. A intervenção precoce e redirecionada pode evitar a escalada para a fase seguinte.
Fase do pico: Esta é uma fase normalmente de curta duração, onde da criança está fora de controlo. Devemos garantir a segurança da criança e dos outros, responder rapidamente, reintegrando a criança na atividade assim que possível.
Fase de desaceleração: Quando a criança começa a acalmar, pode ser útil levá-la para outro ambiente, separado de outras crianças, por alguns minutos. Durante este tempo, uma atividade diferente e estruturada ajuda a criança a estabilizar. O objetivo é garantir que a criança retorne ao contexto inicial já calma e pronta para se envolver novamente.
Fase da Recuperação: Permita que a criança retorne a uma tarefa familiar. Converse com a criança acerca do sucedido. Identifique o(s) fatore(s) desencadeador(es). Reveja os procedimentos tomados e determine as soluções mais eficazes para evitar cenários semelhantes em interações futuras.
Os especialistas enfatizaram ainda a importância de compreender que um comportamento desafiante de uma criança com PEA tem uma ou mais funções; conhece-las, identificar comportamentos a ensinar, o que devemos adicionar ou alterar nas rotinas, compreender o que a criança quer e fazermos alterações de forma a modificar o comportamento, é a estratégia a adotar. O modelo ACC (Antecedente, Comportamento e Consequência) pode ser uma ferramenta que pode ajudar a analisar o comportamento para melhor poder compreender as suas principais componentes. O comportamento disruptivo está frequentemente associado a antecedentes, ou seja, eventos e cenários que acontecem antes do comportamento ocorrido. Já o comportamento é a forma específica como a criança age ou responde. A consequência é o que acontece à criança imediatamente após o comportamento. A identificação destes elementos é crucial para implementar estratégias de prevenção e intervenção.
Além das abordagens práticas, os participantes destacaram os desafios e avanços na compreensão e intervenção nas PEA, sublinhando a importância de utilização de intervenções comportamentais e desenvolvimentais naturalistas com evidência cientifica desenvolvidas especificamente para as PEA e da criação de um ambiente inclusivo nas escolas.
Além de aprofundar os conhecimentos técnicos e da importância da adaptação das práticas pedagógicas, a tertúlia proporcionou um espaço de partilha entre os participantes, reforçando o compromisso do Externato Paulo VI em construir uma escola inclusiva que, além de educar, acolhe e integra.
Esta primeira tertúlia marca o início de um ciclo de encontros que aprofundará temas essenciais para o desenvolvimento infantil, consolidando a missão do Externato Paulo VI de formar cidadãos mais conscientes e preparados para os desafios do futuro.
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