Na passada quinta-feira, dia 13 de fevereiro, o Externato Paulo VI foi palco de mais uma sessão da tertúlia Chá e(m) Diálogo, desta vez dedicada a um tema que preocupa pais, educadores e especialistas: “Ecrãs, tecnologias e bem-estar: Como garantir o uso consciente?”.
O encontro, moderado pela psicóloga de ensino Céu Henriques, proporcionou um espaço de debate e reflexão sobre os desafios da era digital. A conversa contou com a participação dos psicólogos da Clínica Neurogime, Dra. Tânia Martins e Dr. Carlos Costa, que analisaram os benefícios e riscos do uso das tecnologias digitais, abordando o impacto das redes sociais, a dependência digital e estratégias para um consumo mais consciente.
Quando o Ecrã se Torna um Problema
Os dados apresentados são preocupantes. Segundo o relatório "Saúde Psicológica e Bem-Estar nas Escolas", 97,3% dos alunos passa, pelo menos, uma hora diária em frente a um ecrã nos dias úteis, número que sobe para 98,6% ao fim de semana. Para mais de metade, esse tempo ultrapassa cinco horas diárias.
“A tecnologia não é, por si só, um problema”, afirmou a Dra. Tânia Martins. “O desafio está na forma como é utilizada e no impacto que tem no dia a dia das crianças e adolescentes. Quando o tempo de ecrã substitui momentos essenciais, como o convívio familiar, o estudo ou o descanso, torna-se um fator de risco.”
Os especialistas explicaram que nem todo o uso excessivo é uma dependência, mas há sinais de alerta que pais e educadores devem estar atentos. Entre eles, destacam-se a irritabilidade quando privados do acesso ao ecrã, a perda de interesse por outras atividades e a incapacidade de respeitar limites de tempo impostos pelos adultos.
“Nos casos mais extremos, a dependência digital pode levar a alterações no comportamento, dificuldades académicas e até problemas emocionais, como ansiedade e depressão”, alertou o Dr. Carlos Costa.
A tertúlia proporcionou ainda um espaço para testemunhos e partilhas. Para uma encarregada de educação de um aluno do Externato, a sessão foi essencial:
"Sempre soube que os ecrãs tinham um impacto enorme, mas nunca tinha pensado na questão da dependência digital desta forma. Agora percebo que algumas atitudes do meu filho podem ser sinais de alerta. Saio daqui com novas estratégias para pôr em prática em casa.”
Redes Sociais: O Lado Bom e o Lado Sombrio
As redes sociais são uma presença constante na vida dos jovens e desempenham um papel ambivalente. “Elas oferecem oportunidades incríveis de socialização, aprendizagem e até desenvolvimento da identidade”, explicou a Dra. Tânia Martins. “Mas também podem gerar pressão social, comparação constante e uma dependência emocional pelo feedback digital.”
Os especialistas abordaram fenómenos como o FOMO (Fear of Missing Out), que leva os jovens a sentirem ansiedade por estarem desconectados, e os efeitos dos algoritmos, que podem criar espirais negativas de conteúdos, reforçando emoções e comportamentos prejudiciais.
Outro fator preocupante é a fácil acessibilidade a conteúdos inadequados e a exposição a assédio online. “Os pais devem estar cientes dos riscos e envolver-se ativamente na vida digital dos seus filhos”, reforçou o Dr. Carlos Costa.
Como Promover um Uso Consciente da Tecnologia?
Os especialistas destacaram algumas estratégias essenciais para um equilíbrio saudável entre o digital e o real:
✅ Definir regras claras de tempo de ecrã desde cedo;
✅ Criar momentos sem tecnologia em família, como refeições e tempo de lazer;
✅ Acompanhar o que as crianças fazem online, conhecendo as redes sociais e os conteúdos que consomem;
✅ Oferecer alternativas apelativas ao tempo de ecrã, como desporto, leitura ou brincadeiras ao ar livre;
✅ Reforçar a comunicação, promovendo um espaço aberto para discutir preocupações e desafios digitais.
Céu Henriques, que moderou a sessão, deixou um desafio final aos participantes:
"Enquanto adultos, somos muitas vezes rápidos a criticar o tempo de ecrã dos mais novos, mas será que refletimos sobre o nosso próprio comportamento digital? Como podemos ser modelos de um consumo equilibrado?"
Muito Mais do Que Uma Conversa: Um Passo Para a Mudança
A tertúlia Chá e(m) Diálogo revelou-se, mais uma vez, um espaço essencial para discutir temas atuais e promover uma educação mais consciente e equilibrada.
“O segredo não está em demonizar a tecnologia, mas sim em aprender a utilizá-la com moderação e inteligência”, concluiu a Dra. Tânia Martins.
O Externato Paulo VI continua assim a incentivar o debate e a reflexão sobre temas que impactam o bem-estar dos alunos, preparando-os para um futuro onde o digital e o humano possam coexistir em equilíbrio.
A próxima tertúlia já está a ser preparada e promete trazer novos desafios para reflexão. Porque educar é, acima de tudo, dialogar, compreender e adaptar-se aos tempos que vivemos.
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