EXTERNATO PAULO VI PROMOVE CONFERÊNCIA SOBRE A PREVENÇÃO DO ABUSO SEXUAL INFANTIL E ALERTA PARA A URGÊNCIA DE EDUCAR PARA PROTEGER
- 15 de out.
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O Externato Paulo VI, em Braga, promoveu uma ação de sensibilização sobre a prevenção do abuso sexual infantil, dirigida a pais, educadores e docentes, com o objetivo de informar, desmistificar e reforçar o papel da escola e da família na proteção das crianças.
A sessão foi conduzida pela educadora e especialista Margarida Ferraz, formadora master em Educação Sexual, Emocional e Prevenção ao Abuso Sexual (ESEPAS) e vice-presidente e uma das fundadoras da Associação para a Promoção da Prevenção do Abuso Sexual e Apoio à Vítima. Numa intervenção clara e envolvente, apresentou uma abordagem científica e profundamente humana sobre o tema, apoiada em evidência empírica e fontes internacionais de referência.
UM PROBLEMA REAL, SILENCIOSO E TRANSVERSAL
De acordo com dados do Conselho Europeu, uma em cada cinco crianças é vítima de alguma forma de violência sexual antes dos 18 anos. Entre 85% e 90% dos agressores são pessoas conhecidas da vítima, familiares, vizinhos, professores, treinadores ou figuras de confiança.
Margarida Ferraz sublinhou que o abuso sexual infantil atravessa todas as classes sociais, culturas e religiões, podendo ocorrer “em qualquer espaço onde existam crianças: casas, escolas, igrejas, clubes desportivos ou festas de aniversário”.
“O abuso sexual é um fenómeno silencioso, persistente e muitas vezes invisível. A maioria das crianças abusadas não revela o que vive, e quando o faz, utiliza as palavras como último recurso”, recordou, citando a psicóloga Leiliane Rocha.
A especialista explicou que o abuso sexual infantil inclui qualquer forma de contacto ou interação sexual com uma criança que não compreenda ou não tenha maturidade para consentir, podendo ocorrer com ou sem contacto físico. Os abusos com contacto físico envolvem toques íntimos, beijos inapropriados ou imposição de práticas sexuais; os sem contacto incluem exposição à nudez, comentários sexualizados, voyeurismo ou uso da imagem da criança para fins sexuais; condutas que, segundo a Organização Mundial de Saúde, têm efeitos equivalentes em termos de trauma e desenvolvimento.
O PERFIL DO AGRESSOR E OS SINAIS DE ALERTA
Com base nas investigações de Sanderson (2005), Margarida Ferraz descreveu o perfil típico do abusador: alguém que dedica atenção excessiva à criança, oferece presentes, cria oportunidades para estar a sós e vai isolando a vítima do convívio com outros adultos e crianças, estabelecendo uma relação de dependência e manipulação emocional.
Abordou também os sinais e sintomas que devem despertar atenção. Entre os físicos, referiu infeções urinárias, hematomas, dores sem causa aparente e distúrbios do sono. Nos comportamentais e emocionais, destacou mudanças repentinas de humor, medo, regressões, isolamento, baixa autoestima, comportamentos autodestrutivos ou sexualizados de forma precoce.
“A criança pode não dizer o que aconteceu, mas o corpo e o comportamento dizem sempre alguma coisa”, sublinhou.
O IMPACTO E AS CONSEQUÊNCIAS
As consequências do abuso sexual infantil são, segundo Margarida Ferraz, profundas e duradouras. Citando o estudo da ABRAPIA (2002), lembrou que um terço das meninas abusadas pelo pai tenta o suicídio, e que as vítimas apresentam frequentemente perturbações de stress pós-traumático, depressão, isolamento, automutilação e dificuldades de aprendizagem e relacionamento.
“Quando os abusos ocorrem em idades precoces, o desenvolvimento cerebral é afetado, alterando a forma como a criança perceciona o afeto, o perigo e a confiança”, explicou, acrescentando que o impacto depende da idade da vítima, da relação com o abusador e da reação do meio familiar.
EDUCAÇÃO E DIÁLOGO COMO INSTRUMENTOS DE PREVENÇÃO

A especialista frisou que educação sexual infantil não é erotização, mas sim ensino sobre o corpo, as emoções, os limites e o respeito mútuo. Citando Ribeiro (2022) e Figueiró (2018), defendeu que “educar para a sexualidade é ensinar a criança a nomear o corpo, a reconhecer o que é consentimento e a saber pedir ajuda”.
Margarida Ferraz apelou à responsabilidade dos adultos, lembrando que “quando alguém disser a uma criança para não contar algo, é precisamente aí que ela deve contar”. A sua mensagem foi clara: a comunicação e o amor são as primeiras linhas de defesa. “Todos os dias, as crianças precisam de saber e sentir que são amadas. Fale com palavras, mas, sobretudo, com ações”, reforçou.
A palestra terminou com um apelo direto:
“Criança informada é criança protegida. E que o silencia é o maior amigo do abusador e o pior inimigo da Vítima”.
A educadora recordou ainda os contactos de denúncia e apoio - Polícia Judiciária (211 967 000), APAV (116 006), Instituto de Apoio à Criança (116 111) e sublinhando que a denúncia é um dever ético e legal de todos.

A sessão terminou com um momento especialmente inspirador. Os pais e educadores presentes receberam recomendações de leitura sobre o tema e tiveram ainda a oportunidade de conhecer, em pré-lançamento, o livro “Onde Vivem os Segredos?”, apresentado pela autora portuguesa Mariline Rodrigues.
Trata-se de uma obra infantojuvenil profundamente sensível e educativa, nascida de um projeto de investigação académica sobre a prevenção do abuso sexual infantil. Através de uma linguagem acessível e simbólica, o livro distingue entre segredos bons e maus, e toques certos e errados, ajudando crianças e adultos a compreender e conversar sobre temas difíceis com delicadeza e verdade.
Desenvolvido com apoio psicológico e validado por especialistas, “Onde Vivem os Segredos?” inclui também páginas informativas dirigidas aos adultos, com orientações práticas sobre o que fazer perante sinais de suspeita e contactos de apoio especializado.
O lançamento oficial da obra está agendado para o dia 18 de novembro, Dia Europeu da Proteção das Crianças Contra a Exploração e o Abuso Sexual, na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, em Braga. Um projeto apoiado pela ASAS - Associação Social Acreditar e Sonhar e pela editora Trinta Por Uma Linha, que reforça a importância da literatura como ferramenta de prevenção, diálogo e amor.
EDUCAÇÃO PREVENTIVA DESDE OS PRIMEIROS ANOS

Durante dois dias, o Externato Paulo VI realiza também sessões pedagógicas destinadas às crianças, desde o pré-escolar até ao 9.º ano. Com recurso a fantoches, emojis e músicas, a especialista promove uma aprendizagem lúdica e segura sobre o respeito pelo corpo, os afetos e os limites pessoais.
Estas atividades procuram desenvolver competências socioemocionais e fortalecer uma cultura de respeito e autoproteção, alinhadas com a política educativa do colégio, que aposta numa educação integral e preventiva.















































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